segunda-feira, novembro 28

Não mexam em nada

É incrível como temos dificuldade de abrir mão das coisas. Não estou falando apenas das partes boas, falo de tudo, parem pra olhar: O casamento pode estar uma merda, um não suporta mais o outro, dias e dias sem uma palavra, sexo, nem em sonhos. Um belo dia, um dos dois (cheio de coragem), decide acabar com o sofrimento dando um basta nesse conto de fadas; junto com o fim vem a depressão da perda.
Pode lembrar daquele emprego horrível que você tinha, o chefe era um verdadeiro estrupício, os corredores da Empresa mais pareciam o Instituto Butantã. Não adianta simular alívio, bem lá no fundo você fica arrasado no dia que sai o bilhete azul.
Somos máquinas movidas pelo medo do incerto, o passado podia ser um lixo, mas era o MEU lixo. Virar a página significa começar a escrever em uma folha totalmente em branco, exatamente nesse momento que muitos de nós preferimos continuar a escrever nas bordas da página anterior. Depois ficamos reclamando que a vida está uma bagunça.
Ao longo da minha vida, tive a oportunidade de viver em algumas cidades. Em uma dessas esse medo do novo foi minha maior razão de desistir do lugar.
Fui trabalhar em uma sólida e famosa empresa familiar (tenho arrepios quando leio isso), na data da contratação, o diretor disse-me que queria “mudar”, “alcançar novos rumos”. Cheguei em uma nova cidade, cheio de planos profissionais e até alguns pessoais.
Primeira reunião com a diretoria e lá vai o “sonhador”. Proponho um plano estratégico, já esperando os louros da fama pelo projeto, quando ouço a triste sentença: “Muito bom! Mas não vai dar certo (custa muito dinheiro)!”.
Segunda reunião, já menos idealista, propus outra idéia, ouvi a mesma sentença. Nem precisa dizer que na terceira e última reunião falei só de teimoso. Decidi não ficar mais que três meses lá, no início, com uma ponta de indignação, agora vejo tudo com uma triste clareza.
Não era só o fator “dinheiro” e no fundo também não tiro “muito” a razão. Imagine só, você “quebrado”, sem um tostão no bolso, de repente fica sabendo a novidade, aquele parente acertou na sena, deu o golpe do baú ou como diriam lá no Rio Grande do Sul: “Botou o p** a juro”. O melhor de tudo, ele lembrou de chamar toda a família, já que tinha uma Empresa que a “amada” herdou e agora todo mundo vai ter uma “vaquinha de leite”. Nem vem com falso moralismo, você ia querer uma dessas tetas. Começamos a brincadeira de empresários e diretores de sucesso, a grande droga é que ter uma empresa é diferente de ter uma banca de camelô, querendo ou não, precisa se reciclar, a americanização (disfarçada de globalização) que é a mola que move este “novo” mundo, cobra isso.
Esse é o problema que ameaça o futuro dos “dinossauros”, fazer algo novo e abrir mão daquela antiga página cheia de notas de rodapé. Nem preciso dizer o porque da saraivada de “nãos”. Assumir que o novo é arriscado não é demérito pra ninguém, ter medo de virar uma página, todos tem, claro que tudo pode dar errado, entretanto, pode dar certo. Isso não justifica ficar colando post-its em uma folha que não tem mais nenhum espaço, arriscado é, óbvio que dá um certo pavor, contudo se você não aceita que tudo pode mudar pra melhor, ainda estaríamos escrevendo com carvão.

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