quinta-feira, novembro 30

Que medo todo é Esse?

Já viram como todos parecem viver com medo. Não estou falando do simples medo da violência, roubo e as demais neuras que dominam essa droga de mundo moderno, de uns tempos pra cá, tenho reparado no terrível medo de intimidade que tem crescido como uma praga. Nem de longe é a intimidade que você pode estar pensando, pular de cama em cama está cada vez mais comum, estou falando é desse temor besta de relacionar-se com as pessoas, de “fazer amor” ao invés de transar, de perguntar e se interessar de verdade pela resposta, não ficar levantando a sobrancelha pra fingir interesse, de falar “eu te amo” no lugar de “te adoro” pra não dar o braço à torcer parecendo “fraco” (tem que ser muito forte pra dizer “eu te amo”).

Parece que todos se defendem de um inimigo invisível, nas ruas caminham de cabeça baixa, rezando pra ninguém abordá-las e perguntar: “Como você está?”, pois é óbvio que “se ele está me perguntando isso é porque quer alguma coisa”. Fico horrorizado com a impessoalidade que cresce a todo minuto, todos estão ocupados, desconfiados, sempre esperando o pior; queixam-se de solidão e são os primeiros a fechar as portas a uma conversa, só se fala de trabalho, carreira, o prazer de “trocar idéias” se perdeu.

A Internet, com seus ICQ, MSN e outras traquitanas de pseudo-conversas tem piorado tudo, já que o “disponível” nem sempre é verdade, pelo contrário, na maioria das vezes a conversa não passa de alguns toques no teclado, quase sempre o chefe chama, aparece uma ligação do nada ou misteriosamente a conexão “cai”, se não quer conversar, desliga essa “porra”, mas não seja leviano. As barreiras da informação caíram; só que foram erguidas outras de uma maneira silenciosa, isolando cada vez mais as pessoas dentro de si mesmas. Kurt Cobain disse uma vez que era melhor queimar do que se apagar aos poucos, exatamente isso que acontece, estamos nos apagando aos poucos. Mulheres lindas, com diplomas e carreiras em ascensão voltando à noite para apartamentos vazios; homens ricos com MBA e carro do ano afundando buscando atenção em “casas de massagem”.

Todos sempre estão desconfiados, na incerteza de se aquela pessoa está se aproximando de você por sua causa ou pelo interesse em tirar algum proveito, ou pior, na certeza de que “só se aproximam de você por interesse”. Agora cá entre nós, isso não justifica ficar mais fechado que porão. Se for pra viver desconfiado, não dá nem pra classificar como “viver”, está mais pra “existir” ou quem sabe “vegetar”. Você pode até discordar, mas antes disso dá uma olhadela no espelho.

Pessoas “boas” ou “ruins” (acho um dos rótulos mais imbecis) sempre vão existir e de acordo com a situação o mocinho vira bandido e vice-versa. Boas lembranças ou lições são necessárias na vida; lágrimas e sorrisos são fundamentais, o que não dá mesmo é pra agüentar esse cara blasé besta de ver o mundo passar.

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