sexta-feira, novembro 17

Entre Paixões e Taças

Olha só as divagações que uma mente desocupada consegue. Hoje estava conversando com uma amiga e lá pelas tantas, fiz uma comparação que me deixou pensativo. “Histórias são como vinhos!” Todas as nuances que compõem um vinho clássico ou um projeto de vinagre estão na nossa existência (profundo isso), os acertos, os erros, o tempo de maturação que cada tipo de emoção ou vinho precisam para chegarem ao seu auge e que precisam ser respeitados.

Não existem aquelas paixões fugazes, que vem tomando tudo de assalto, sem pedir licença, mas que logo depois de um tempo perdem o sabor e tão rápidas como vieram, se vão. Na hora me vem a lembrança de um típico branco ou até um espumante com o frescor da juventude, marcante, pode até arrebatar, mas que tão rápido como atinge seu ápice se não for sorvido à última gota ainda jovem, esse aroma se apaga.

Em outras histórias o tempo é o maior aliado, tempo mesmo, às vezes anos pra que ela seja tudo o que pode ser. Precisa de maturação, como um bom tinto da Borgonha que necessita de calma e paciência para que o frescor das flores e aromas frutados transforme-se no bouquet, com as pessoas não é nem um pouco diferente, por vezes é necessário que o tempo amadureça as emoções, só ele vai trazer a clareza que os nossos olhos precisam e raramente alcançamos.

Traduzindo dessa forma fica tão simples de entender nossas paixões, casos, “transas” e amores, mas porque é tão difícil viver, porque sempre é tão complicado? Simples, nossa constante insatisfação tem o dom de jogar tudo o que aprendemos pela janela. Fazer daquela noite incrível um casamento fast food, ou transformar um possível amor duradouro e uma única noite digna de ser esquecida.

Outro erro que cometemos é utilizar as fórmulas prontas: “Se com o meu amigo deu certo, comigo também vai dar!” Igual ao mito de que vinho tinto só se toma à temperatura ambiente. Se você estiver em uma cave na Europa onde a temperatura não passa de 15°, perfeito, mas imagina aqui nos nossos 40° dos trópicos, dor de cabeça na certa. Cada um vive a sua história de uma maneira única e não é porque a sua vizinha está a trinta e tantos anos casada e feliz que você vai ser copiando tudo o que ela fez. Não existe conto-de-fadas, viver com outra pessoa em qualquer situação que seja, casamento, sociedade ou até amizade dá muito trabalho, é uma constante negociação onde a imposição não pode ter lugar porque “azeda” a mistura.

Quem sabe será por isso que muita gente ao final de uma love story tem um reencontro homérico com as garrafas, ao invés de “beber pra esquecer” poderíamos “beber pra aprender”, entender que tudo dura o tempo certo que lhe foi dado. Se tiver a atenção, cuidado e consciência de que nunca chegamos, mas sempre estamos buscando a sensação que aquela taça cheia do melhor que a videira pôde dar nos proporciona, às vezes por um momento, ou talvez não.

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